Fomos à antiga fábrica de papel de porto de cavaleiros. Ali, depois da serra, onde se desce e se alcança o Nabão… é um lugar avassalador, pela sua beleza, história, arquitectura, mas também pela destruição e vandalismo a que foi sujeito. As instalações e documentação estão lá, são anos e anos de trabalho, de história, por ali largados ao abandono. Chega a doer-me a alma. Não posso imaginar como se abandona uma imensidão daquelas assim!
Calculo que a fábrica estaria à beira da ruptura total, só de ver as instalações posso calcular a logística de sustentar todo aquele espaço… Só vendo mesmo.
No meio de tudo aquilo, no meio do silêncio das paredes, dos restos de papel, no meio da destruição e com o som do rio lá ao fundo senti-me completamente esmagada. Somos horrorosos enquanto homens criadores e destruidores. Horrorosos…
9 comentários:
papoila, toca a ver coisas lindas e não destruição!!
dora
mais beleza e menos destruição maria papoila!!
É a mer** do pais que temos . Para se terem estádios e mandarem selecções para hóteis carissimos é preciso dinheiro . Dinheiro que podia ser aplicado nesse e noutros espaços, conferindo-lhes algum do movimento que outrora tiveram . Somos bastante limitados nesse e noutros aspectos .É preciso respeitar a nossa identidade, só a partir dai é que se poderá ter um pais em condições. Entretanto vamos tendo estes "spots" que servem perfeitamente para a prática de paintball/airball e concertos .
Fica bem !
É triste mas há por aí muita coisa asim... Infelizmente...
Meus amigos frequentemente desço o Nabal com a minha Filhota e realmente é triste a fabrica estar como está, e é correcto o pensamento dos estádios , mas atenção que segundo o que me consta a fbrica foi abaixo porque o verdadeiro Dono foi desta para melhor e todo o seu esforço foi assim compensado pela ganância dos Herdeiros , sabem que os parasitas não gostam de trabalhar.
Cumprimentos a todos os Canoistas e BTTistas, talvez se crezemos nessa maravilhosa zona.
Andava a fazer umas pesquisas na NET sobre fabrico de papel e dei com este post sobre Porto de Cavaleiros.
Nem as pessoas que tiveram a amabilidade de colocar estas fotos no blog, nem as pessoas que fizeram os comentários imaginam a história que está por trás destas imagens de destruição.
Não se trata só de destruição de algo físico, muita pessoas deixaram ali a sua vida, de uma forma ou de outra. Eu por exemplo deixei lá a minha infância e juventude, repletas de alegrias e sonhos.
Nasci em 1968 em Lisboa e fui viver para Porto de Cavaleiros com dias, morei lá até aos meus 20 anos altura em que voltei para Lisboa estudar.
Fui baptizado na capela que fotografaram, na altura havia no altar uma Nossa Senhora pertencente á minha família á mais de cem anos na altura.
O mais chocante para mim não é ver estas imagens de destruição, o que me choca na realidade é não se conhecer hoje em dia o que foi Porto de Cavaleiros e a sua importância para a economia do País. Era uma indústria familiar, esteve na posse do meu bisavô, que morreu muito cedo, pai de Jaime de Oliveira e de Fernando Oliveira (General).
Na altura a minha bisavó, D. Cecília de Oliveira, após ter ficado viúva com dois filhos de 6 e 8 anos viu-se obrigada a vender a fábrica a uns primos de Lisboa, também eles Oliveira. Desde essa altura, 1915 talvez, a fábrica esteve na posse do Sr. Mário de Oliveira e suas irmãs até á década de 80 onde por força do destino e pressão da globalização o Grupo Papéis de Porto de Cavaleiros acabou por tombar.
Apesar da tristeza profunda que sofri ao ver as fotografias queria agradecer a quem as tirou e colocou na internet, desta forma simples e sem pretensões acabaram por fazer uma pequena homenagem a Porto de Cavaleiros e a todos os seus proprietários.
Bem hajam.
Nuno Oliveira Costa (ncosta@erse.pt)
Queria dizer a quem tirou os slides,que Porto de Cavaleiros era um local de rara beleza até 2000. Fui neta, accionista e secretária de Administração dos antigos donos portanto conheço bem o local e o Nuno. Queria dizer ao Nuno que contou uma história mal contada, por isso acho que devo pôr as coisas no devido lugar.Existiu em tempos uma azenha que pertencia à Comenda da Póvoa.Em 1876, já havia uma fabriqueta de papel pertencente a Nicolau Pinto. Em 1880 António Joaquim de Araújo comprou a fábrica e fez sociedade com Marino Pereira da Costa, em Março e 1882 foi feito um aumento de capital e nessa altura passou-se a denominar Cª. do Papel de Porto de Cavaleiros e dela faziam parte os seguintes tomarenses:Dr.Carlos Pereira Mendes, João Torres Pinheiro, José Carlos Pereira, António de Almeida e Silva Junior, Marino Pereira da Costa, Joaquim António de Araújo, Dr. José de Melo, Tomé de Almeida e Silva, Carlos Henriques da Fonseca, etc.Em Fevereiro de 1913, o meu Avô António Duarte de Oliveira comprou a fábrica. Após a sua morte ficou à frente da fábrica a minha Avó Maria del Pilar Fernandez de Oliveira.
O bisavô do Nuno nunca teve nada a ver com a fábrica, era simplesmente irmão do meu Avô. A Nossa Senhora, de que ele fala, foi comprada em Espanha pela Avó Pilar acompanhada da filha Fernanda Oliveira. Depois da Avó morrer fica à frente da Fabrica o filho mais novo Mário Oliveira. Em 1987 foi feita uma OPV em que entraram alguns accionistas. Em 1991/2 a fábrica faliu pela 1ª. vez. Depois de uma tentativa de viabilização foi criada a IPT, que por sua vez vendeu ao Sr. Mohatassen Dimachkie, libanés católico que conseguiu ainda dinamizar a fábrica e começar a pagar aos trabalhadores e a alguns credores. Em 1999 adoece gravemente com um cancro nos pulmões e em Outubro de 2000 a fábrica fecha. Ele foi para a Austria operar-se, esteve mais de um ano em tratamentos e depois não soubemos mais nada dele.A partir daí foi o descalabro. Roubaram tudo e o pior saquearam com requintes de malvadez. O que fica, são as boas recordações. A minha Avó Pilar foi das 1ªs. pessoas a dar subsidio de Natal aos seus empregados e brinquedos e agasalhos para os filhos destes.
Maria Luisa Oliveira M Garcia
Ali nasci, ali vivi, ali passei os melhores momentos da minha meninice. As poucas famílias que ali viviam estavam sempre prontas para as urgências que surgissem numa fábrica que laborava continuamente. Aprendi a nadar nas águas então límpidas do Nabão. Naquelas águas fiz grandes pescarias. Bogas, barbos, bordalos e enguias ajudavam a passar os dias das férias grandes. Juntamente com uns passeios de barco e uns banhos de rio. Fui das crianças que recebiam os brinquedos de que a Maria Luísa fala. Era uma bela festa de Natal, com muita luz, alegria e confraternização. Gostaria de fazer parte de um grupo de cidadãos que fizessem renascer Porto de Cavaleiros.
Conheço bem o local, até eu gostava de participar o renascimento desta fábrica e nunca fiz parte dela.
É sem dúvida uma fábrica magnífica.
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