Vi no jornal aquele pequeno quadrado com fotografia e fiquei alguns momentos a olhar para ele. Passou um filme na minha cabeça.
Ainda que o padre Querido nos ralhasse muitas vezes, também tinha, maioritariamente, um sorriso cândido para nos oferecer.
Tenho tantas lembranças do padre Querido. Muitas vezes me disse, não fosse eu pensar que o podia enganar, que me conhecia desde a barriga da minha mãe! Foi mesmo uma figura da minha infância. Lembro-me de como puxava o fio do sino, que tantas vezes soltavamos para seu desespero e nosso entretenimento, e tocava as Avé Marias ao fim da tarde. Lembro-me que depois, lendo o seu missal, pisava a passos certos e ritmados o Tabuleiro da Misericórdia, para a frente e para tráz repetidamente e a sua batina preta adquiria o ritmo do próprio sino e balouçava-se também. Era mesmo um belo fim de tarde e eu gostava de me sentar no muro,mesmo por baixo do enorme castanheiro, que também servia para fazer pontaria certeira ao sino com as suas castanhas, a vê-lo caminhar... para mim é mesmo uma doce memória, um momento de sossego no final das tardes de verão atribuladas com tanta brincadeira. Teriamos todos entre 5 e 10 anos, eramos muitos, viviamos lá em cima, mesmo em cima das muralhas do castelo, naquelas ruas cheias de vida e de gente que partilhava.
Era outro tempo, um tempo que gosto de recordar, tantas tradições, gestos, pessoas, usos e costumes que fizeram parte da minha infancia e que me fizeram crescer. O Senhor Prior...
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