Urgência do Hospital de Abrantes, 16:00 horas.
Entra um casal de idosos, o homem seguia a sua mulher que seguia deitada, inanimada, numa maca. Seguia-a em silêncio, com lágrimas no rosto. Os enfermeiros continuaram a andar, abriram as portas em par e disseram:
- O senhor espera aqui.
As portas fecharam-se, com grande estrondo, nesse momento foi como se o homem tivesse despertado e começou a falar. Falava e as lágrimas ainda corriam ainda mais depressa, e dizia:
- Quero ir também, quero estar com a minha Rosa. A minha Rosa vai e eu também quero ir. Tirem-me o pacemaker, tirem-me o pacemaker…
O monólogo continuou, as lágrimas continuaram.
O som da voz foi diminuindo, as lágrimas não, a dor não.
A dor…
Ir, partir, deixar este mundo, falecer, morrer.
A morte é parte da vida, mas a vida dos que não vão, não partem, não deixam este mundo, não falecem, não morrem não é a mesma depois da morte.
A ausência…
2 comentários:
sabes,realmente nao acredito que andemos nesta vida pra nada...tem que haver um depois, simplesmente nao pode acabar aqui...mas depois do enorme susto e dor que apanhei com o AVC que o meu teve, podes crer, que nao estamos preparados para nada, mesmo acreditando que há uma vida melhor, que tudo o que fazemos aqui continua do outro lado...mas mesmo assim nunca vamos estar preparados para deixarmos ir quem mais amamos...por mais que vivamos, nem que a nossa vida dure um milhão de anos, nunca vamos estar preparados...mesmo que sejas como eu e acredites que mais cedo ou mais tarde nos iremos encontrar com eles "do outro lado da vida"...mas nunca estaremos preparados para a "perda", para a dor,e para a tristeza...não é justo que percamos as pessoas que amamos mas infelizmente é assim a vida, é assim a continuação da humanidade...uns nascem e os outros morrem...feliz ou infelizmente (ainda nao sei) é assim o curso da vida...
Essa é uma certeza para a qual nunca vou estar preparada...
A ausência de quem a gente ama dói!
Uma dor que não é física, é do nosso coração.
Cada pessoa que parte leva um pouquinho de nós.
As recordações ajudam a superar alguma dor, mas fica sempre uma moinha...
A ausência é lixada...
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